sábado, 24 de abril de 2010

45

15h54min TERÇA 20 de Agosto.

Pegaram o ônibus que não demorou. Roxane sentou-se a janela sem observar a paisagem embora olhasse para fora. Ottus percebeu que o pulso dela inchava e uma pérola saia e caia no chão, quicando com outras que a seguiram.
- Roxane. – Ottus.
Ela não o ouviu.
- Roxane, você está bem? – Ottus.
- Sim Ottus. Obrigada por ter vindo comigo. – Roxane.
Ela forçou um sorriso.
- Não deve ligar para o seu pai, ele não tem merecimento de ti. – Ottus.
- Certamente que não. – Roxane.


17h54min TERÇA 20 de Agosto.

- Onde quer que eu te deixe? – Tiago.
- Pode ser no shopping. – Aline.
- Não está pensando em assaltar as lojas, está? Por que isso me tornaria seu cúmplice. Além disso, eu não quero dar na vista.
- Dar na vista? Por que está preocupado se alguém pode te ver ou não?
- Eu vou parar no shopping pra comer mesmo. Lancha comigo?
- Aceito se eu não pagar.
Tiago virou a direita para chegar à avenida, fechando um caminhão que os acertou. Aline bateu a cabeça quando o veículo acertou o carro da frente.
- Você está bem? – Tiago.
- O que acha? – Aline.
- Que você deveria ter colocado o cinto.
- Por que você ainda não está invisível?
- Você não vai poder explicar um carro sem motorista.
- Eu me viro.
- Tenho que telefonar pra Carlos, ele não ajudará.
- Esquece. Eu não preciso de ajuda.
Seguranças de transito surgiram ao lado do carro.
- Saiam do veículo devagar.
Aline desceu e viu duas crianças saírem do carro da frente com o pai e sentiu-se zonza. Um dos guardas a segurou.
- É melhor chamar uma ambulância.
- Você está bem Aline? – Tiago.
- Ótima. – Aline.
- Vamos levá-los à delegacia. Terão atendimento médico e poderão telefonar para casa.


18h32min TERÇA 20 de Agosto.

- Oi Ottus. Se você voltou trouxe Roxane com você. – Bernardo.
- Ela está cansada e foi para o quarto. – Ottus.
- Vou dar boa noite a ela.
- Não. Deixe-a descansar.
- Roxane está doente?
- Não, apenas cansada.
- Francamente! Vocês deveriam agradecer a Deus por não estarem mortos! Olha pra você Aline, poderia ter tido uma concussão! – Vitor.
- Eu posso causar uma em mim mesma se continuar te escutando. – Aline.
- Rosa quer falar com vocês, agora.
Vitor bateu na porta do gabinete e abriu para que os dois entrassem, depois saiu encostando a porta. Rosa estava de pé na frente da escrivaninha não mais calma que Vitor.
- O que pensaram fazer? – Rosa.
- Infelizmente eu não tenho a capacidade de sumir. – Aline.
- Isto não é brincadeira! Vocês pegaram o carro da associação para fugir! São menores de idade, sem habilidade de direção! Residentes, mesmo que temporários, desta instituição! Eu respondo por vocês dois! Dei inúmeras explicações! Têm noção de quantos problemas causaram?
- Desculpe Rosa. Carlos quer que eu vá embora pra casa da minha tia. – Tiago.
- Isto não é justificativa.
- Desculpe.
- E você, o que tem a me dizer?
- Nada. Você sabe que não quero ficar aqui. – Aline.
- Não sei de quem foi a idéia no início e não me importa. Ambos serão punidos morando aqui ou hospedados. Estão sob a minha responsabilidade do mesmo modo que os outros alunos.
- Ao que parece apenas você nos quer aqui.
- Qual será a nossa punição? – Tiago.
- Vocês não parecem cansados depois do que fizeram. O preparo do jantar será por conta de vocês. – Rosa.
- Cozinhar? – Aline.
- Faltam apenas alguns minutos para o jantar! – Tiago.
- Então vocês devem começar o quanto antes. – Rosa.
- Sim madame.
- Eu não posso prolongar muito a sua punição visto que não é residente definitivo e pretende partir em breve Tiago, mas posso prolongar a sua Aline. Ajudará Angelo nas suas tarefas diárias por três semanas.
- Três? – Aline.
- As restantes da estada que pretende estar aqui. Retiro uma semana se vier conversar comigo às vezes.
- Claro, é tudo o que quer. Virei falar contigo e será tão agradável a você quanto a mim.
- Com licença. – Tiago.
Aline e Tiago foram à cozinha e ela serviu-se de suco de acerola para desfazer o nó na garganta.
- Não sei o que fazer. – Aline.
- Eu faço o jantar. Você terá trabalho o suficiente acompanhando Angelo pela manhã. – Tiago.
- Você é legal. Gosto de pessoas legais.
- A maioria aqui é melhor que eu. Você que ainda não os conheceu.
- Você não me irrita, por isso eu vou te ajudar. Deve precisar de ajuda.
- Carlos providenciou que eu aprendesse a ser independente, isso inclui aprendera cozinhar.
- Você tem pais? Alguém além do teu irmão?
- Você tem?
- Não os conheço.
- Também não tive oportunidade de conhecer muito os meus. Carlos diz que o nosso pai matou a nossa mãe. Ele...
- O que foi?
- Eu me lembro. O meu pai estava bêbado quando chegou em casa, quebrando tudo! Minha mãe morreu sufocada, implorando! Ele não parava de beber e xingar! Ela sufocava! Ela estava branca quando ele a soltou! Estava morta com as marcas dos dedos dele por todo o pescoço! Os olhos sem vida virados para o teto...
Tiago cortava a cenoura com mais força que a necessária ao chorar. O dedo sangrava um pouco e Aline parou o seu braço. Carlos surgiu na porta após escutar a conversa por trás da porta. Ele se aproximou abraçando a irmão.
- Tiago. – Carlos.
- Ele não se arrependeu no dia seguinte! – Tiago.
- Eu sinto muito.
- Eu não fiz nada. Nada!
- Não foi sua culpa.
- Eu devia ter feito algo.
- Não com seis anos, não tão novo. Eu tentei. Juro que tentei deixar a mamãe pra você.
- Era a esposa dele! Como ele pôde?
- Eu não sei Tiago. Sei apenas que a mãe gostava de você mais que tudo.

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