quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

40

11h48min SEGUNDA 19 de Agosto.

Sabendo que não podia deixá-la sozinha, Tiago assobiou. O furgão trazia os residentes da escola municipal quando Bernardo parou a porta do veículo.
- Sai da frente Bernardo! – Catarina.
- Escutou isso? – Bernardo.
- O que ouviu? – Roxane.
- Ele está sempre ouvindo coisas. – Catarina.
- Não posso resistir, estão assoviando. Como quando chamam os cães! – Bernardo.
- Também estou ouvindo, mas são gritos de socorro. – Ottus.
- De onde vêm? – Elisa.
- De trás do casarão. – Bernardo.
- Vocês fiquem aqui. Valério.
- O que foi Elisa? – Valério.
- Vem comigo.
Os dois caminharam para a lateral da casa e Elisa começou a flutuar após alguns passos. Metros além da parte da casa viram Tiago e Valério correu.
- O que aconteceu? – Elisa.
- Ela é alérgica a mordidas de lagarta. – Tiago.
- O coração dela está rápido demais. – Valério.
- Vou levá-la. – Elisa.
Elisa flutuou levando Aline pelos pulsos para a báscula do terceiro andar Tiago retornou com Valério para o casarão e os alunos os aguardavam nas escadas da frente.
- O que aconteceu? – Catarina.
- Nada. Vamos entrar. – Valério.
- Está bem? – Ottus.
- Sim, é apenas uma pérola. – Roxane.
- Ei, por que vai a escola sem estar matriculada? – Tales.
- Costumo acordar cedo e Bernardo goste que eu o acompanhe.
- Eu sei Valério. – Tiago.
- Sabe de quê? – Valério.
- Que Carlos quer saber se eu sei me defender. Diga a ele que se eu souber que perigo eu corro será mais fácil de me defender.
Tiago subiu para o quarto e depois foi para o corredor do terceiro andar.
- Oi Tiago. Pode entrar para ver Carlos. – Bin-Bin.
- Não vim vê-lo Bin-Bin. Quero notícias de Aline. Ela está bem? – Tiago.
- Demos a ela um agente químico contra o veneno do animal que a mordeu. Ainda está inconsciente, mas ficará bem.
- Obrigado.
- Qual o problema?
- Com uma mordida ela poderia ter morrido?
- Aline está bem Tiago, foi socorrida em tempo.
- Se ela pode morrer por que pegou uma lagarta? Ela não hesitou, não teve medo.
- Eu não sei por que ela fez isso.
- De qualquer forma obrigado Bin-Bin, eu posso vê-la quando despertar?
- Claro! Eu o avisarei.
Tiago virou-se e viu quando Valério vinha pelo corredor.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

39

08h00min SEGUNDA 19 de Agosto.

Tiago olhou as cores vibrantes da lagarta, depois Aline disse a ele que olhasse o sol. A uma careta dele ela repetiu.

- O sol, por alguns segundos. Depois olhe a lagarta de novo. – Aline.

Ao voltar a olhar a lagarta Tiago viu que as cores no animal se desprendiam como vapor e a rodeavam.

- O que é isso? – Tiago.

- É o que vejo quando os outros não podem. A aura das pessoas como você, eu o vejo. – Aline.

- Então o meu irmão vê a minha aura.

- Não creio que ele seja capaz disso. Ele não pode vê-lo, apenas senti-lo. Como eu disse, ele é o teu irmão. Por que seguia Valério?

- Ele está com a minha caneta e eu a quero de volta.

- Já pediu: por favor?

- Geralmente o meu irmão pede que ele me vigie, como Carlos está de cama Valério está sempre ao meu redor.

- Valério não está te vigiando.

- Você não o conhece, e nem ao meu irmão.

- Seu irmão pediu a Valério que lhe ensinasse a lutar.

- Como você sabe?

Aline colocou a lagarta no galho de onde a havia tirado.

- Eu vou falar com Carlos. – Tiago.

Ele deu dois passos se afastando em direção ao casarão quando escutou um gemido alto atrás de si e voltou.

- Qual o problema? – Tiago.

- Uma lagarta me mordeu na perna. – Aline.

- Eu te ajudo a chegar ao casarão. Um pouco de gelo vai aliviar a dor.

Aline perdeu as forças das pernas e sentou-se zonza.

- Você está bem? – Tiago.

- Sou alérgica. – Aline.

- Falava sério? Eu vou procurar ajuda.

Aline se deitou fechando os olhos e Tiago percebeu que o coração dela acelerava.

- Aline, fale comigo! Aline! – Tiago.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

38

- Ei! Espere! – Tiago.
Aline caminhava sem lhe dar atenção, parou quando Tiago parou na sua frente.
- Diz como conseguiu fazer aquilo, me diga. – Tiago.
- Aquilo o que? – Aline.
- Como sabia que eu estava seguindo Valério?
- Sou uma boa observadora.
- Não. Você tinha certeza de onde eu estava.
Tiago a rodeou invisível e Aline o seguiu com os olhos e parou a mão que se aproximava.
- Você pode me ver! O meu irmão faz isso, mas não me diz como! – Tiago.
- Você disse. Ele é o teu irmão. – Aline.
- Mas não o percebo mesmo que esteja atrás de mim. Diga, eu preciso saber.
- Teria que apostar a tua vista nisso.
- É um preço um pouco alto, mas eu aceito. Vai querer minha córnea doada?
Aline voltou a caminhar sem dizer nada. Nos arbustos viu uma lagarta colorida e se aproximou.
- O que está fazendo? – Tiago.
- Por favor, não faça nenhum movimento brusco. – Aline.
Ela esticou as mãos e apanhou a taturana entre elas.
- Eu sou alérgica a mordidas de lagartas. – Aline.
- Todos nós somos. É a defesa dela. Sempre fica avermelhado ao redor. – Tiago.
- Quer mesmo apostar seus olhos e saber o que eu vejo?
- Sim.
Aline esticou a mão com a lagarta que se esticava a todo o momento.
- Olhe para ela por alguns segundos. – Aline.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

37

06h45min SEGUNDA 19 de Agosto.

Aline saiu para o pátio e olhou Valério à distância conversando com Raíssa antes de entrar no furgão.
- Até à tarde Valério. – Raíssa.
O furgão partiu com Roxane entrando por último.
- Cara! – Aline.
- Oi, bom dia. O meu nome é Valério.
- A sua atividade tem a ver com a mente?
- Não, ela é elétrica. Por quê?
- Tem um garoto te seguindo.
Valério olhou ao redor sem ver ninguém próximo, mas ao virar-se para a direita pela segunda vez viu Tiago. Aline se afastava.
- Qual é a atividade dela? – Tiago.
- Eu não sei. – Valério.
- Vou falar com ela.
- Vai. A caneta é minha por mais um dia.
Valério foi diretamente ao terceiro andar e parou na porta da enfermaria.
- Tem alguém aí? Quem está aí? – Carlos.
- É impressionante. Pode notar o irmão há metros, mas não pode saber quem entra no mesmo cômodo que você. – Valério.
- Não me assuste deste jeito. O que faz tão cedo aqui? Pedi que me trouxesse as notícias do dia à noite. Meu irmão fez progressos?
- Sim, mas uma garota o atrapalhou.
Valério serviu um copo de água para o remédio de Carlos e sentou-se na beira da cama.
- Atrapalhou como? – Carlos.
- Veio me dizer que eu era seguido. Tiago acabou aparecendo. – Valério.
- Como ela sabia? Quem é ela?
- Sei apenas que é um dos residentes que chegaram ontem. Não tivemos muito tempo de nos conhecer.
- Tem compromisso pra esta noite?
- Não, eu trago notícias.
- Da garota.
- Está bem.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

36

19h21min DOMINGO 18 de Agosto.

Aline subiu as escadas e uma vez no quarto ligou o walkman. Jogou as malas pela janela e dançando subiu no peitoril e saltou. Dois andares não a inibiriam de tentar retornar a sua liberdade. Assustou-se ao parar pega pelo pé.

- O que está fazendo? – Angelus.

Preso à parede com um tridente curvo semelhante a cristal ele usava a outra mão para segura-la.

- O que você pensa fazer? Largue-me seu idiota! – Aline.

- Parece ser uma das novas estudantes. – Angelus.

- Que estudante?

- então é uma espiã.

- Olha, eu não sou ninguém. Agora dá pra me soltar?

- Vamos conversar com madame Rosa.

- Droga! Agora pode soltar o meu tornozelo?

- Não.

Angelus levou-a para a sala de jantar pendurada de ponta cabeça. Contrariada enquanto os estudantes a olhavam Aline cruzou os braços.

- Angelo! – Rosa.

- Conhece? – Angelo.

- É uma das novas estudantes!

- Escapava pela janela.

- Pode solta-la.

Angelo a soltou e Aline alisou o tornozelo dolorido.

- Ela ia morrer saltando do segundo andar. A menos que controle o ar. – Angelo.

- Ia visitar um amigo na África. Mas eu lhe agradeço ter varrido o chão com o meu cabelo. – Aline.

Ela se levantou encarando Angelo.

- Acabaria se matando. – Angelo.

- Melhor que ficar aqui. – Aline.

- Esta é Aline Makita. Não é uma metamorfósea comum, tem a palavra nos lábios. – Vitor.

- Ela tem alguns problemas pendentes com a sociedade. – Bin-Bin.

- Não tenho problemas. – Aline.

- Posso ver. Mas eu não tenho tempo de discutir com crianças. – Angelo.

- Vamos ao meu escritório, por favor. – Rosa.

Aline a seguiu com Bin-Bin e Vitor até o gabinete onde Rosa se sentou em sua cadeira.

- Não quer mesmo ficar aqui? – Bin-Bin.

- Não! – Aline.

- Devia ao menos tentar. – Vitor.

- Esta é a sua decisão? – Rosa.

- Claro. – Aline.

- Fique por quatro semanas, se não gostar pode partir.

- Fala sério.

- Eu falo, garanto. A polícia será o menos de seus problemas quando sair.

- Isso é sério?

- Você escolhe.

- Ótimo.

Aline saiu do escritório feliz. Poderia dormir bem e comer melhor, mas depois partiria sem dizer adeus. Uma vez no quarto transformou o walkman em rádio, fechou as cortinas e a lâmpada era um globo colorido. Após um banho frio se deitou de camisa e o quarto voltou ao normal à medida que adormecia.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

35

18h30min DOMINGO 18 de Agosto.

Elisa os acompanhou ao segundo andar onde, ao anoitecer, Valério os buscou para o jantar temendo que se perdessem. Foi ao quarto dos meninos e por último ao de Aline.
A porta estava aberta e Valério parou ao ver que a garota dançava. Aurélio se aproximou e a tocou no ombro, Aline tirou os fones do ouvido.
- Vamos jantar. – Aurélio.
Desceram as escadas e chegaram à sala de jantar onde outros residentes aguardavam de pé.
- Obrigada por trazê-los Valério. – Rosa.
- Madame. – Valério.
- Sim.
- Por que não os chamou?
- Precisava de alguém que trouxesse Aline.
- Ela é como a madame?
- Falaremos sobre isto em outra oportunidade.
- O que a senhora faz? – Tales.
- Movo madeira e converso com pessoas ausentes. O que você faz? – Rosa.
- Estacas de gelo com os olhos.
- E você Aline?
- Ela não fala. – Roan.
- Eu não gosto de falar. Leia a minha mente. – Aline.
- Eu não sei fazer isto e você é uma forma diferente de metamorfósea. – Rosa.
- Diferente?
- Vocês já conhecem as professoras Sandra e Elisa. Estes são os doutores Io-lan e Bin-Bin Fang e o professor Vitor.
Após apresentar os alunos sentaram-se para jantar.
- Onde está Angelo? – Rosa.
- Atrasado. – Sandra.
- Bem, estes são os novos estudantes. Agora, ao jantar.
- Onde está Valério? – Luciana.
- Com Carlos, outro professor.
- Desculpem, mas estou cansada e com um pouco de dor de cabeça. Irei para o meu quarto. – Aline.

sábado, 7 de novembro de 2009

34

11h55min DOMINGO 18 de Agosto.

O furgão retornou com Sandra e aos poucos os passageiros foram descendo do veículo. Elisa estava nos degraus da frente e leu todos os nomes. Enquanto os gêmeos Joan e Roan Ximenes mostravam-se admirados, sob os óculos escuros ninguém notava a reação de Aline Makita. Luciana Castilha não podia ser vista sob sua roupa que cobria cabelos e olhos, ao contrario de Tales Rodrigues que de regata tinha os patins sobre os ombros.
Aurélio Blavatski mantinha-se calado sem qualquer reação. Permanecia sereno com seu candelabro ao lado.
- Isto é grande. – Tales.
- É. Tem árvores o bastante. – Joan.
- Que mansão. – Luciana.
- Bem vindos ao casarão! – Elisa.
O cabelo de Aline cobria as pernas dos óculos ao descer em trança até as costas. Quando Elisa leu o seu nome ela apenas balançou levemente a cabeça.
- Comigo, por favor. – Elisa.
Luciana entrou primeira e Tales em seguida, desconfiado. Observaram as grandes escadas nas paredes opostas, mas Elisa os levou para o escritório do primeiro andar.
- Sejam todos bem vindos. Eu sou madame Rosa Morena e esta é Elisa Arruda, professora daqui. Os quartos são no segundo andar e qualquer um que precisar de atendimento médico, no caso de algum acidente, é só encaminhar-se ao terceiro andar. – Rosa.
- Quantas pessoas moram aqui? – Luciana.
- Muitas, mas aos poucos vocês se conhecerão.
- Espero não causar problemas.
- Não há discriminação aqui. Agora eu os deixarei descansar, para alguns de vocês foi uma longa viagem. Ver-nos-emos novamente no janta. Elisa os acompanhará aos quartos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

33

19h23min SÁBADO 17 de Agosto.

- Retiraram o tubo de oxigênio. – Tiago.

- Boa noite. Desligaram quando cai da cama. – Carlos.

- Por que mandou Valério atrás de mim? Disse que eu corria perigo.

- Estava nervoso. Qualquer um corre perigo do modo como estava.

- Se está bem por que ainda não saiu daqui?

- Quem disse que estou bem? Eu estou melhor, apenas fora de perigo.

Tiago calou-se.

- Eu não posso mover andar. As minhas pernas estão paralisadas. – Carlos.

- Você se feriu? Quebrou a coluna? – Tiago.

- Não. Eu ainda vou correr muito atrás de você.

- Qual é o problema com você?

- Não posso te contar.

- Ótimo, não quer conversar.

- Está tarde Tiago, vá descansar.

- Pare de me dar ordens!

- Não dormiu na noite passada.

- As ordens terminam aqui.

- Está bem. Chame Valério para mim, por favor.

- Vai mandá-lo cuidar de mim, já que está de cama?

- Estou apenas sem sono e entediado.

- Está bem.



07h16min DOMINGO 18 de Agosto.

O dia amanheceu claro e estava quente quando Sandra saiu. Bem cedo, quando Elisa saiu com o furgão, Valério procurou por Tiago.

- Bom dia Tiago. Tão cedo e está disposto. – Valério.

- Meu irmão fez de novo. Mandou você atrás de mim. Talvez você possa me explicar o que está acontecendo com ele. – Tiago.

- Eu não sei, mas confio nele. É o meu melhor amigo. Ele não me pediu nada.

- Então o que você quer?

- Eu fico totalmente ocioso há esta hora. É a hora em que Raíssa está na escola. Não quer, sei lá... Conversar, mostrar o que sabe fazer.

- Pra que?

- Passar o tempo. Depois eu te mostro o que consigo fazer.

- Não estou muito para brincadeiras Valério.

- Está bem. Tem uma caneta?

- Para o que?

Quando Valério tocou o objeto oferecido os dedos de Tiago queimaram e a caneta ficou com Valério.

- O que pensa estar fazendo? – Tiago.

- Isso não foi nada. Agora quero ver se posso ficar com a caneta de presente. – Valério.

Tiago ficou invisível, mas Valério notou a grama se deitando sob o tênis e tentou acertá-lo.

- Desculpe. Você está bem? – Valério.

Tiago levantou-se.

- Sim. – Tiago.

- Você é silencioso. – Valério.

- Por isso ando de meias.

- Eu não te escutei. Encontrei você por que a grama cede ao peso. Pareciam os seus pés.

- Claro.

- Na próxima ande abaixado mesmo invisível. Ataque, você deve saber atacar.

- Eu sei. Agora me devolva a caneta, a brincadeira acabou.

- Por quê? Você me deu.

- Dei?

- Se quer de volta pegue-a.

- Esquece, pode ficar. Eu arranjo outra.

domingo, 25 de outubro de 2009

32

11h12min SÁBADO 17 de Agosto.

Tiago caminhou em direção a porta do casarão quando o furgão chegava. Bernardo desceu, correndo atrás de Catarina e sacudindo a cabeça. Ottus desembarcou com Roxane, deixando-a sentada e em transe enquanto uma pérola era expulsa de sua mão.
- Devia ter ido ao passeio Tiago. Foi divertido. – Raíssa.
- Sandra, madame Rosa deseja falar com você. – Bin-Bin.
- Vocês estacionam o carro para mim? – Sandra.
- Claro. – Raíssa.
Tiago ligou o carro e estacionou na garagem. Depois guardou a chave no bolso.


11h17min SÁBADO 17 de Agosto.

- Boa tarde. Pediu que me chamassem? – Sandra.
- Sim. Entre e sente-se, por favor. – Rosa.
Sandra sentou-se.
- Há algum problema? – Sandra.
- Não. Preciso apenas que esteja na rodoviária pela manhã para trazer os novos residentes. – Rosa.
- Quantos?
- Cinco na rodoviária e um neste endereço.
Sandra pegou o papel, lendo-o.
- Catedral Metropolitana? – Sandra.
- Este está na cidade há algumas semanas. Ontem faleceu o padre que cuidava dele e veio a capital para se tratar. – Rosa.
- Está bem. A que horas será?
- Às nove. Aqui tem as fichas com os dados e atividades deles.
- Todos podem controlá-las?
- Sim. Peça a Vitor para acompanhá-la, afinal são seis crianças. E tenha cuidado com o que Aline disser.
- Aqui diz que ela não é muito comunicativa.
- Ela é uma metamorfósea avançada.
- Terei cuidado. Sabe se Carlos está melhor?
- Parece que não pode mover as pernas. Tentou se levantar, mas caiu.
- Ele ficará bem?
- Carlos sabe o que lhe acontece, sabe que irá melhorar. Tenho uma reunião agora. Ajude Valério a cuidar de tudo.
- Fique tranqüila.
Rosa saiu trancando seu gabinete e Vitor aguardava diante das escadas no Toyota vinho perolado. Sandra levou os papéis para o quarto e os leu, gravando o nome e a atividade de todos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

31

10h13min SÁBADO 17 de Agosto.

- Você foi encontrado tão fraco e com os olhos tão sem vida que eu me senti como você ontem à noite. Preocupado e impotente. Dependendo de outros.
Tiago ficou olhando-o transparente. Ora mais fraco e ora mais forte sem sumir.
- Você está bem? Talvez eu não devesse ter lhe contado. – Carlos.
- Estou ótimo. – Tiago.
- Não está. Vou chamar Bin-Bin.
- Eu disse que estou bem.
- Estaria se houvesse ido tomar sorvete.
- Não sou mais criança Carlos!
- Eu sei. Vamos conversar mais até a hora do almoço.
- Não quero conversar mais por hoje. Preciso pensar.
- Aonde vai? Tiago espera!
Tiago saiu rápido e numa tentativa de alcançá-lo Carlos caiu no chão batendo as costelas.
- Tiago volte aqui! Tiago! – Carlos.
- Carlos, o que você faz no chão? – Valério.
- Precisa alcançar meu irmão Valério! Não pode deixá-lo sair sozinho!
- Eu vou te colocar na cama e chamar Io-lan pra cuidar de você.
- Não Valério! Meu irmão pode estar em perigo, vai atrás dele! Presta atenção, ele não pode sair do casarão!
- Por quê?
- Vai atrás dele Valério, por favor!
Valério desceu as escadas sem avistar Tiago e perguntando por ele a todos que passavam. Por fim encontrou-o próximo as garagens. Pegou a foto no chão e se aproximou.
- Isto é teu? – Valério.
- Obrigado. – Tiago.
- É uma bela foto.
- Não devia escutar Carlos. Eu estou ótimo.
- Ele só está preocupado, diz que corre perigo.
- Perigo? Esta é boa. Ele que não me deixa em paz. Eu acreditaria em perigo se ele me dissesse qual que é.
- Você está bem? Se quiser em posso escutar o que houve entre vocês.
- Esquece.
- Eu vou te deixar sozinho, como quer, se me prometer não sair do casarão.
- Ótimo, pode me deixar em paz.
- Então não saia.

sábado, 10 de outubro de 2009

30

Cumprimentou sem olhar para trás.
- Como sabe que estou aqui? Eu não fiz um ruído. – Tiago.
- Imaginei que viria o mais cedo possível. Acha que estou melhor? – Carlos.
- Sim. Parece ter melhorado.
- Entoa diz pra Io-lan e Bin-Bin pararem de me dar gelatina por que eu não sou um bebê.
Tiago continuou sério e Carlos largou o prato na bandeja sobre as pernas.
- Qual o problema? – Carlos.
- Não é nada. Só que eu pensei... – Tiago.
- Estou bem Tiago, acredite. Fez o que eu pedi?
- Sim. Apenas o essencial.
- Ótimo. Eu soube que Sandra levou alguns residentes para tomar sorvete na praia.
- Fui convidado, mas preferi te fazer uma visita.
- Sorvete no café da manhã não é de se recusar. Devia ter ido e trazido para mim um pote de cinco litros.
- Não creio que seria uma boa idéia.
- Qual o problema Tiago? Você parece cansado. Aposto que não dormiu.
- Estava sem sono.
- Mentira.
Tiago se virou de costas, ficando invisível ao rodear Carlos que o acompanhou com os olhos sem ter certeza de onde ele estava. Tiago reapareceu com um papel nas mãos.
- É a nossa mãe? – Tiago.
Carlos pegou a foto e suspirou.
- Sim. – Carlos.
- Não me lembro dela, nunca vi nenhuma foto. Por que não me mostrou antes? – Tiago.
- Eu não sei. Tenho esta foto há tanto tempo...
- Não me recordo da minha infância Carlos. Você devia ter me contado tantas coisas.
- Eu sei e me perdoe.
- Depois de ontem eu lhe perdoarei pelo resto da vida Carlos. Sei que minhas perguntas são irritantes, mas preciso das respostas.
- Você não me irrita Tiago, nem nunca me irritou. Você só me lembra...
- O que eu te lembro?
- Veja na foto.
Tiago pegou o papel de volta e viu o menino de olhos claros e gordas bochechas.
- Viu? – Carlos.
- É você quando bebê? – Tiago.
- Não! É você, no seu aniversário de um ano.
- Não pode ser eu. Tenho olhos castanhos.
- Nossa mãe também tinha. Aos dois anos os seus olhos tornaram-se castanhos. Não é só nos olhos que você me lembra ela.
- É verdade?
- Veja a postura séria dela, o olhar calmo mesmo que esteja sob tensão... Devem ter a mesma raiz da unha de tão parecidos.
- Sabe o nome dela?
- Tereza.
- E o do nosso pai?
- Eu não posso te contar.
- Se você sabe conte.
- Não vale a pena.
- Sei que ele foi um criminoso, mas não sei de mais nada. Se ele ainda está vivo pode estar preso, poderíamos procurá-lo.
- Não!
Carlos sobressaltou Tiago ao falar tão rispidamente.
- Talvez ele queira nos conhecer, afinal somos os seus filhos. – Tiago.
- Ele sabe onde nós estamos e não veio nos conhecer. – Carlos.
- Sabe onde ele está?
- Talvez eu o matasse se pudesse.
- Então você tem que me dizer por quê.
- Acho que alguma coisa você tem idade pra saber, não tem mais seis anos.
- Qual o crime de nosso pai?
- O crime deste fugitivo que eu não chamo de pai foi o de ter matado a nossa mãe. Os olhos não se fecharam calmos como sempre era, e nem a postura mais era séria como em toda a sua vida. O menino, tão parecido com ela, desapareceu por semanas.
- Ele a matou?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

29

08h00min SÁBADO 17 de Agosto.

Ficou debruçado na janela sem notar que ficava transparente a medida que observava as nuvens que enfraqueciam a luz de algumas estrelas. Não notou, porém, quando as estrelas deram espaço aos raios de sol. Nem ao menos notou a porta ser aberta.
- Está tudo bem Tiago? – Elisa.
- Oi Elisa. Eu não a escutei. – Tiago.
- Você não me parece muito bem. Você não dorme muito bem, como Carlos. Posso ajudar?
- Ontem à noite eu pensei que Carlos fosse morrer e... Até agora eu não pude deixar de pensar no que faria no caso dele realmente morrer. Nunca o vi daquele modo antes!
- Deve ter se assustado mesmo, mas Carlos já esteve pior. Ele está bem Tiago, melhorando bastante.
- Quando ele esteve pior?
- Pergunte a ele, Carlos não pode negar.
- Posso vê-lo?
- Ele está acordado e foi retirado do soro. Vim avisá-lo para ir vê-lo.
- Obrigado.
Elisa saiu e minutos depois Tiago saiu trancando a porta antes de ir ao terceiro andar.
- Oi Tiago. Nós vamos à sorveteria. Não quer vir junto? – Roxane.
- Fica para outra vez. Vou ver Carlos. – Tiago.
- A Sandra está esperando pela gente. – Catarina.
- Estamos indo. – Bernardo.
- Bom sorvete pra vocês. – Tiago.
Ele entrou na enfermaria e encontrou Carlos sentado comendo gelatina.
- Oi Tiago.

sábado, 12 de setembro de 2009

28

- Não entro em um bar há meses, não se preocupe com isto. Os meus pulmões apenas precisavam de uma força extra.

Carlos se virou para tossir e Bin-Bin ficou apreensiva.

- Seu irmão precisa descansar Tiago. – Bin-Bin.

- Só um momento Bin-Bin, por favor. – Carlos.

- O que foi? – Tiago.

- Quero que faça uma coisa e, por favor, não discuta. Confie no teu irmão.

- Eu sei que não me quer morando aqui. Se isto te deixa tranqüilo então tudo bem, mas terá que me explicar por que mais tarde.

- Não é isto. Quero que deixe suas coisas arrumadas para sair daqui o quanto antes. Não pegue muita coisa.

- Tenho duas malas e uma mochila aqui.

- Apenas a mochila.

- Chega por hoje. – Bin-Bin.

- Farei o que está me pedindo. – Tiago.

- Se eu conseguir dar três passos vou te levar de volta pra casa da tia. Esteja pronto. – Carlos.

- Por que a pressa?

- Faça o que pedi.

- Está bem.

- Vamos Tiago. – Bin-Bin.

- Tiago. – Carlos

Tiago virou-se para ele.

- Pegue a foto na gaveta ao lado da minha cama. É para você. – Carlos.

Bin-Bin levou Tiago para o corredor e ele esperou-a sair para cuidar da tosse de Carlos. Uma vez sozinho no quarto Tiago foi ao criado mudo à cabeceira do irmão e pegou uma foto com uma mulher e um bebê que colocou na mochila que começava a arrumar.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

27

21h00min SEXTA 16 de Agosto.

Com pressa Tiago não subiu pelas escadas acompanhando Roxane. Usou o elevador e logo estava diante da enfermaria onde Bin-Bin o aguardava.
- Sabia que viria. – Bin-Bin.
- Meu irmão está bem? – Tiago.
- Sim, permanecerá apenas algum tempo em observação.
- Posso vê-lo?
- Claro. Mas não é bom que ele o veja, compreende?
- Sim Bin-Bin. Quero apenas vê-lo, não vou demorar. Prometo. Carlos não irá reparar a minha presença.
- Ótimo.
Bin-Bin abriu a porta enquanto Tiago ficava invisível e permaneceu no quarto com eles. Tiago aproximou-se da cama e olhou Carlos, com fios monitorando os seus batimentos cardíacos e sua respiração, ligado ao tubo de oxigênio.
- Pode aparecer Tiago. – Carlos.
- Como sabia que eu estava aqui? – Tiago.
- Eu quase o vi nascer.
Tiago escutava com horror a voz antes ditadora e autoritária de Carlos transformada em um sussurro.
- Você está bem? – Tiago.
- Estarei bem em pouco tempo e o obrigarei a dormir. – Carlos.
- Não me contaram que o haviam ligado ao oxigênio.
- Não me enterre ainda. Pode escrever que eu logo estarei fora desta cama.
- Você me assustou. O que aconteceu? Está doente?
- Desculpe tê-lo assustado. Eu apenas sou alérgico a algumas coisas e me descuidei. Apenas isto.
- Não bebeu álcool, não é? Apenas meia garrafa de cerveja seria o suficiente para te matar.

domingo, 16 de agosto de 2009

26

20h15min SEXTA 16 de Agosto.

Sem notarem a sombra estreita no portão, a alguns metros, os dois entraram no casarão.

- Semana que vem é a nossa vez de fazer compras. – Raíssa.

- Nem me lembre. Só de pensar eu já estou cansado. – Valério.

- Está tarde. Vamos dormir. Amanhã vocês me devolvem a caneta.

- Obrigada. – Roxane.

- Você também não vai dormir? Raíssa tem razão, está tarde. – Tiago.

- Não posso dormir agora. Veja. – Roxane.

Ela pegou a mão de Tiago e a colocou no seu pulso pressionando levemente.

- Sente isso? – Roxane.

- É uma concha? – Tiago.

- Sim, mas ainda não está pronta. Não saiu nenhuma hoje, mas sei que esta sairá ainda esta noite.

- Não pode dormir.

- Não sabendo que vou acordar sentindo dor. Dormirei depois. Passou uma hora a dez minutos, vá ver seu irmão.

- E a sua carta?

- Terminarei no quarto. Boa noite.

- Tenha uma boa noite você também.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

25

Valério tirou Tiago da enfermaria, mas o garoto se recusou a sair do corredor.
- Seu irmão ficará bem. – Valério.
- Como posso saber? Ele parecia bem quando saia e segundos depois voltou deste jeito. – Tiago.
- Estou certo que ele ficará bem.
A porta abriu-se e Rosa saiu da enfermaria.
- Como Carlos está? – Tiago.
- Demos um analgésico a ele está sendo examinado e ficará em repouso. – Rosa.
- Posso vê-lo?
- Em uma hora sim. Carlos precisa descansar.
- Está bem, obrigado. Irei esperar.
- Carlos está bem Tiago, não há razão para se preocupar.
Rosa deixou-os sós e Tiago voltou a sentar-se no banco estofado do corredor.
- Você escutou o que ela disse, seu irmão ficará bem. Já até está melhor. Por que não procura descansar e amanhã cedo vem vê-lo? – Valério.
- Não vou conseguir dormir. – Tiago.
- Sei. Você e seu irmão dormem pouco.
- Sim. Eu durmo apenas cinco horas, mas é difícil eu dormir à noite.
- Seu irmão também dorme assim, mas não todos os dias.
- Vou caminhar no jardim. Volto em uma hora.
- Devia descansar.
Tiago desceu pelas escadas e encontrou Roxane sentada nelas.
- Oi. Esperava você descer para saber como está o seu irmão. – Roxane.
- Carlos está bem, foi o que disseram. – Tiago.
- Onde está indo?
- Caminhar. Irei vê-lo em alguns minutos.
- Quer companhia?
- Obrigado.
Roxane levantou-se e saíram para o jardim.
- Por que não ficou invisível e entrou para vê-lo? – Roxane.
- Valério notaria a porta se abrindo. Carlos também não gosta que eu use minha atividade. – Tiago.
- Por quê? Aqui é o único lugar que pode usar sua atividade sem ser censurado.
- Eu sei. Mas não moro aqui. Temos uma tia no norte e eu moro com ela.
- Então por que está aqui? Estamos no meio do calendário escolar.
- Algumas vezes eu perco o controle sobre a minha atividade. Ainda não contei nada aos meus tios sobre eu ser um metamorfóseo.
- Entendo. A madame Rosa quer que eu escreva ao meu pai para lhe contar o que está acontecendo. Se não houver nada para você fazer poderia me ajudar?
- Ter o que fazer? Tudo o que quero é ocupar a minha cabeça por quarenta e cinco minutos. Raíssa deve ter papel no quarto dela.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

24

19h30min SEXTA 16 de Agosto.

Bernardo afastou-se de Catarina e retornou ao casarão. A noite recém havia caído e também começavam o jantar.

- Aproveito o momento para apresentar a futura residente da AICM, Roxane James. – Rosa.

- Bem vinda. – Raíssa.

- Obrigada. Espero, sinceramente, ser uma boa companheira para vocês. – Roxane.

- Será! – Bernardo.

- Eu vou indo. – Carlos.

O professor levantou-se vestindo a jaqueta jeans que estava na guarda da cadeira.

- Espere, aonde vai? Pensei que fosse... – Tiago.

- Pensou errado. Espero encontra-lo na cama quando eu retornar. – Carlos.

Carlos desceu a escada principal quando sentiu uma dor na nuca se acentuar para frente da cabeça à medida que descia os degraus. Sentiu-se enjoado. Todo o seu corpo parecia dormente, mas a dor espalhava-se rapidamente para o estômago.

Olhou para os lados a procura de alguém, tropeçando nos degraus ao voltar para o casarão, esbarrando na porta ao abri-la. Tiago saía da sala de jantar ao perder o apetite.

- Carlos! – Tiago.

- Eu vou ficar bem. – Carlos.

- Alguém! Socorro! Ajudem Carlos!

Tiago deitou o irmão no chão ao escutar as cadeiras serem arrastadas. Não demorou a Surgir Rosa e Valério.

- O que ele tem? – Valério.

- Eu não sei. Ele entrou caindo. – Tiago.

- Eu ficarei bem. Não é nada. – Carlos.

- Vamos cuidar de você. Raíssa, diga a Io-lan que prepare a enfermaria. – Rosa.

- Sim madame. – Raíssa.

Com Tiago e Valério lhe apoiando Carlos conseguiu ficar de pé. No terceiro andar Bin-Bin os aguardava com uma maca na saída do elevador para no terceiro andar.

- Deite-se. – Bin-Bin.

- Ficarei bem em algumas horas se me deixarem em meu quarto. – Carlos.

- Não irá a lugar algum do modo como está. – Io-lan.

Valério tirou Tiago da enfermaria, mas o garoto se recusou a sair do corredor.

sábado, 11 de julho de 2009

23

14h25min SEXTA 16 de Agosto.

Roxane submeteu-se aos vários exames que Io-lan lhe proporcionou. Foi dispensada em meio da tarde para conhecer o seu quarto no andar inferior.
- Oi. – Ottus.
- Oi Ottus. – Roxane.
- Ao que me parece você ficará aqui.
- Ainda não é certo que eu fique, faltam alguns detalhes. Mas este será o meu quarto.
- O meu é no fim do corredor.
- Não tive a oportunidade de lhe agradecer por me ajudar esta noite.
- Não foi nada.
- Pode, por favor, me dizer onde é o escritório de madame Rosa?
- Eu a levo até o gabinete dela.
- Obrigada.
Ottus a acompanhou ao andar inferior quando passou um frisby sobre a sua cabeça e foi derrubado por Cão que surgiu diante deles.
- Você não olha por onde anda, não? – Ottus.
- Foi sem intenção Ottus, me desculpe. – Latiu Cão.
- Não me machucou, mas poderia. Tome mais cuidado.
- Está bem.
- Esta é Roxane James, vai ficar no quarto próximo à báscula no corredor.
Cão ficou de pé nas patas traseiras e endireitou o corpo, ficando como um garoto de oito anos ao deixar de ter pêlos.
- Sou Bernardo Santa Clara, muito prazer e me perdoe se eu a assustei. – Bernardo.
- Você é um cão muito bonito, não poderia me assustar. – Roxane.
- Cão bonito, melhor que garoto?
- É um belo garoto também.
- Ei Bernardo, vamos continuar jogando! – Catarina.
- Eu vou indo. Foi bom conhece-la Roxane James. – Bernardo.
- Digo o mesmo de você. – Roxane.
Bernardo se virou e correu sumindo a meio caminho e surgindo próximo a Catarina como um grande São Bernardo.
- O que estava fazendo? – Catarina.
- Derrubei Ottus. – Bernardo.
- Ele deve ter dado uma bronca em você. Não lhe bateu?
- Não! Talvez brigasse se aquela garota não estivesse com ele.
- Que garota?
- A nova estudante. O nome dela é Roxane James e disse que sou o garoto cão mais bonito que ela já viu.
- Ela não vai mais pensar assim quando passar pulgas para ela.
- Eu não tenho pulgas!
- Está bem, você não tem pulgas.
- Vou beber água, estou com sede e cansado.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

22

09h00min SEXTA 16 de Agosto.

Ela os observou sair e pegou o elevador para o terceiro andar.
- Ela está acordada? – Rosa.
- Acordou há poucos minutos. – Io-lan.
- Aparentemente teve uma noite tranqüila. Encontramos outras duas conchas ao lado do travesseiro. – Bin-Bin.
Roxane estava sentada olhando o gramado através da janela quando Rosa entrou.
- Bom dia. – Rosa.
- Bom dia. A senhora deve ser madame Rosa Morena. Estava ansiosa por conhecê-la. – Roxane.
- Obrigada. Mas você sabe mais sobre mim do que eu de você.
- Desculpe não me apresentar. Sou Roxane James. Dois internos daqui me salvaram dos médicos.
- Os médicos não fizeram por mal. Imaginavam que estava doente. Quando soubessem que não está provavelmente agiriam de outro modo. Você parece ter dormido bem sem os remédios.
- Ottus ajudou-me.
- Ottus!
- Desculpe. Talvez eu não devesse sair do quarto, mas eu estava com fome.
- Claro.
- Ottus me seguiu e me contou de sua atividade. Pedi a ele que fizesse algo por mim e ele fez. Não me lembro da dor não ter me incomodado durante a noite.
- Satisfaz-me saber que esta melhor Roxane. Fique o quanto precisar.
- Eu gostaria de morar aqui, como os outros internos, se houver uma vaga para mim. Há possibilidade?
- Sim. Converse com os teus parentes antes e veremos a sua matrícula.
- Tenho apenas o meu pai e creio que ele não se importe.
- Telefone a ele.
- Não há modo.
- Então envie uma carta.
- Se insiste...
- Você é menor de idade Roxane. Se o teu pai vier a lhe ignorar não haverá problemas judiciais mais tarde.
- Eu compreendo.
- Desde agora então seja bem vinda à Associação Informal e Centro Metamorfóseo.
- Obrigada.
- Permaneça para demais exames. Precisamos saber o que ocorre em seu organismo e porque as conchas se formam. Depois pode descer para a ala feminina. A certaremos seus estudos mais tarde.
- Não sei como lhe agradecer.
- Não precisa se preocupar com isso, apenas faça o que Io-lan e Bin-Bin lhe pedirem. São os melhores médicos que eu posso oferecer.

sábado, 13 de junho de 2009

21

Raíssa saiu com outros alunos e chegou à escola em tempo de ir à biblioteca devolver alguns livros. Rosa levantou-se cedo naquele dia, encontrando Tiago na cozinha.
- Bom dia senhora. – Tiago.
- Bom dia Tiago. Teve problemas novamente? – Rosa.
- Sim senhora.
- Gostaria de falar com você em particular. Talvez agora seja o momento propício. Preciso ver a menina que trouxeram ontem.
- Sobre o que deseja falar senhora?
- Vamos ao meu gabinete.


08h00min SEXTA 16 de Agosto.

Tiago seguiu-a e Rosa lhe pediu para se sentar diante de sua mesa.
- Quero tratar contigo a sua permanência definitiva aqui, como uma segunda casa. Poderia sair, ou visitar teus parentes, quando desejasse. – Rosa.
- Meu irmão nunca concordaria. Ele não quer que eu tenha vínculos com a Associação.
- Mas a sua atividade está se desenvolvendo e seu irmão não pode impedir, menos ainda controla-la. Aqui nós o ajudaremos a desenvolver a atividade com segurança. Terá o nosso apoio e a nossa proteção.
- Preciso pensar no assunto.
Carlos entrou no gabinete e ao vê-lo zangado Rosa e Tiago se levantaram.
- O que está fazendo? – Carlos.
- Eu apenas conversava com Tiago. – Rosa.
- Sobre o que? – Carlos.
- Ela só estava me oferecendo... – Tiago.
- Eu oferecia ao Tiago uma vaga na Associação. Ele terá segurança. – Rosa.
- Pensei que houvesse ficado claro que meu irmão está fora disso na última conversa que tivemos. – Carlos.
- Por que não o deixa decidir? Respeitarei a decisão de Tiago, mas não a sua por ele.
- Meu irmão ainda é novo.
- Ele não consegue controlar a atividade dele. Pode ser muito perigoso e é imprudente no caso de manifestar-se oscilante ao atravessar uma rua.
- Eu posso e vou ajudar o meu irmão. Não precisei de ninguém até para isso quando mais novo e posso me virar bem agora. Vamos Tiago.
- Mas Calos... – Tiago.
- Vamos agora. Arrume suas coisas, vai voltar pra casa da titia.
- Estarei esperando a sua resposta Tiago, quando quiser. – Rosa.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

20

- Onde esteve? – Tiago.

- Em alguns lugares. – Carlos.

- Sabe que dia é hoje?

- Não sei quando foi ontem.

Carlos deitou-se de bruços sem tirar os calçados e Tiago levantou-se.

- Seria o aniversário de mamãe se ela não estivesse morta.

Carlos resmungou algo e se aprofundou em seu sono. Tiago se vestiu e saiu encostando a porta. Pensou em subir para a enfermaria e ver Roxane, mas lembrou-se da advertência do irmão e desceu para a sala.

06h30min SEXTA 16 de Agosto.

Os internos acordavam para mais um dia de aula na escola pública. Raíssa deu a volta na mesa e o viu.

- Bom dia Tiago. Está aqui de novo? – Raíssa.

- Tive que vir. Eu estava sumindo na casa da minha tia. – Tiago.

- Ainda não contou a ela?

- Contar como!

- Soube que há uma nova garota aqui. Sabe de alguma coisa?

- Sei. Foi Carlos e eu que a trouxemos. Nem sabíamos que era uma metamorfósea.

- Mesmo? O que aconteceu com ela?

- Não tivemos oportunidade de conversar. Ela sente muita dor pra se concentrar em mais alguma coisa.

- O expresso Elisa está saindo e quem não estiver nele em cinco minutos vai para a escola andando. – Elisa.

- Preciso ir. Foi bom te ver de novo. – Raíssa.

domingo, 31 de maio de 2009

19

- Tem razão. De qualquer modo eu não deveria abrir a geladeira de uma casa que não é minha sem autorização.

- Não se preocupe. Ao que me parece você mora aqui.

- Ainda não pude falar com madame Rosa Morena.

- Quer um suco de laranja? A acidez corroe o cálcio.

- Sim, obrigada.

Ottus preparou na hora dois copos após perceber que Roxane não podia mover o braço normalmente.

- Há quanto tempo está aqui? – Roxane.

- Dois meses. – Ottus.

- Os seus pais sabem que você é um metamorfóseo.

- Devem saber, estão mortos.

- Eu sinto muito. Minha mãe morreu há três dias.

- Geralmente os que vivem aqui não têm pais ou então eles são os piores seres que pisaram na terra.

- Meu pai é assim.

- Então sabe de que falo.

- Quem o trouxe?

- A polícia.

- Você cometeu algum crime?

- Não quero falar sobre isto. De qualquer modo esta bastante tarde e me parece que precisa de repouso.

- Pode me acompanhar à enfermaria, por favor?

- Sim.

- Obrigada. Irá sair outra coisa da minha mão e não quero ficar sozinha quando acontecer. Importar-se-ia em ficar comigo?

- Não.

Ottus entrou com ela no elevador quando percebeu a respiração de Roxane mais forte e um gemido de dor.

- Qual o problema? – Ottus.

- É uma concha, melhor seria que fosse apenas uma pérola. – Roxane.

- Dói muito não é mesmo?

- Como se uma ferida fosse novamente cortada.

- Eu posso usar minha atividade em você, se quiser.

- Pode controlar?

- Meus óculos podem.

- Faça com que eu não sinta a dor.

- Como desejar.

Ottus retirou os óculos permitindo que Roxane se perdesse neles, então segurou sua mão.

- Roxane. – Ottus.

- Sim mestre. – Roxane.

- Você é incapaz de sentir dor enquanto esta concha sai de seu braço.

- Sim mestre.

Roxane deitou-se e logo adormeceu. Ottus a cobriu com um lençol grosso e certificou-se de que ela dormia e retornou ao seu quarto ao amanhecer, encontrando Carlos no corredor, mas não foi notado por ele, que foi para o quarto que dividia com o irmão.


[N.A.13]

segunda-feira, 18 de maio de 2009

18

23h38min QUINTA 15 de Agosto.

Roxane despertou em meio da noite, mas não era sua mão que incomodava, embora doesse um pouco. Desceu o primeiro lance de escadas conhecendo o casarão e atravessou o corredor descendo novamente para o primeiro andar. Tinha muita sede e um pouco de fome. Retirava o leite da geladeira quando a luz acendeu-se.

- Quem é você? – Ottus.

- Sou Roxane. Você mora aqui? – Roxane.

- Sim. Você passou pelo corredor no andar de cima e não reconheci os seus passos. Tenho um bom ouvido, como o de alguns animais.

- Não tem, não.

- Como pode saber sem me conhecer?

- Conheço os cegos. O seu ouvido não é melhor que o meu você apenas não se distrai com a visão.

- Então você é uma metamorfósea poderosa. Pode sentir a minha atividade?

- Não. Você pode?

- Eu induzo as pessoas que olham para mim quando falo.

- Verdade? Talvez convencesse os médicos de que não sou louca e dissesse ao meu pai que não fosse tão cruel comigo.

- Os pais reagem estranhos quando descobrem o que somos.

- Ele não sabe que sou uma metamorfósea.

- De qualquer modo eu não posso ajudar. A minha atividade sobre cai apenas sobre fêmeas. Qual é a sua atividade?

- Há três dias começaram a sair pérolas e conchas de minha mão. Fui atacada por ostras em uma fazenda.

- Está tarde. Não vai descansar?

- Disseram que preciso descansar, mas vou comer algo antes. Quer um pouco de leite?

- Eu não gosto de leite, mas se você gosta em acho que deveria beber outra coisa. Conchas são formadas por cálcio e o leite é rico em cálcio.
[N.A.12]

domingo, 10 de maio de 2009

17

Io-lan não demorou a retornar com a sobrinha e Tiago. Roxane foi examinada, respirava devagar e de olhos fechados, mas não dormia.

- Está bastante desgastada. Precisa descansar. – Io-lan.

- Dê a ela um medicamento. – Tiago.

- Não posso dar nada a ela sem saber se pode fazer mal. Poderia piorar a dor.

Roxane respirou com mais força.

- O que há? – Carlos.

- Vai acontecer de novo, eu posso sentir. Vai acontecer. – Roxane.

- Calma. – Tiago.

- Dê algo a ela. – Carlos.

- Algum medicamento pode matá-la. – Bin-Bin.

- Antes morta ao sofrimento que esta garota sente.

- Darei uma anestesia local, como na vez anterior. – Io-lan.

- Vão me costurar? – Roxane.

- Ninguém mais fará isso com você. – Carlos.

Bin-Bin preparou a seringa e administrou a medicação em ambos os lados do corte. Roxane não sentiu a agulha penetrar a pele, sentindo menos dor ao sair a concha.

- Está melhor? – Io-lan.

- Sim. Obrigada por cuidarem de mim. – Roxane.

- Qual o seu nome? – Bin-Bin.

- Roxane.

- Seus pais devem estar preocupados com você. Podemos avisá-los. – Io-lan.

- Não. Meu pai acha que tentei suicídio e minha mãe faleceu há três dias.

- Eu sinto muito. – Carlos.

- Para onde vai? – Tiago.

- Morar no trabalho, eu acho. Uma fazenda de ostras. Alguns trabalhadores vêm do interior e mora nas residências. – Roxane.

- Poderia ficar na AICM.

- Vocês moram aqui?

- Aqui é uma instituição que abriga os metamorfóseos. Pode ficar se conversar com a diretora, madame Rosa Morena.

- Rosa não conversará com você agora. Você tem que descansar Roxane, nós vamos deixá-la sozinha. A diretora estará disponível pela manhã. – Bin-Bin.

Tiago desceu para o quarto que dividia com o irmão advertido a não retornar à enfermaria.
[N.A.11]

quarta-feira, 6 de maio de 2009

16

- Não sabiam que era pior, que você é uma metamorfósea.

- Quem é você?

- Tiago Otávio. Qual o seu nome?

Roxane respirou fundo.

- Está sentindo alguma coisa? – Tiago.

- Vai acontecer de novo. – Roxane.

- Acontecer o que?

- A minha mão.

19h30min QUINTA 15 de Agosto.

Tiago segurou o braço de Roxane esforçando-se para ver a esfera brilhante que tentava sair. Carlos entrou.

- O que faz aqui? – Carlos.

- Estava cuidando dela. – Tiago.

- Ela devia descansar.

- Eu não fiz barulho.

- Calce os seus tênis.

- Um minuto. Deixe antes esta coisa sair da mão dela.

- Deixe-me ver.

Carlos pegou o braço dela e olhou Roxane, analisando a situação.

- Pegue uma toalha úmida Tiago. – Carlos.

- Um minuto. – Tiago.

Na pia o garoto lavava as mãos.

- Posso tirar isso da sua mão, assim à dor passará logo. Tudo bem pra você? – Carlos.

Roxane assentiu. Carlos calçou uma luva descartável e segurou o braço juntamente com a toalha. Tiago sentou ao lado dela, segurando os seus braços.

- Calma, a gente vai ajudar. Carlos vai tirar isto da sua mão. – Tiago.

Carlos puxou a pedra, que recuou para o fundo, escapando aos seus dedos. Roxane reclamou.

- Desculpe. – Carlos.

Tentando novamente Carlos não pode retirar a concha que se escondia, como um marisco, ao ser tocada por ele. Quando finalmente a concha saiu Tiago colocou-a no pote com as pérolas e Carlos ajudou Roxane a deitar-se.

- Como ela está? – Tiago.

- Cansada. Avise Io-lan que ela está acordada e que lhe dê algo para a dor. – Carlos.

Io-lan não demorou a retornar com a sobrinha e Tiago. Roxane foi examinada, respirava devagar e de olhos fechados, mas não dormia.

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